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Há 25 anos, "Nevermind" expunha o segredo do rock independente para o mundo

Alexandre Matias

24/09/2016 08h38

Me lembro exatamente do momento em que ouvi "Smells Like Teen Spirit" pela primeira vez, graças a um amigo que havia acabado de comprar o disco e havia me emprestado. Tinha 16, quase 17 anos e foi pouco após do lançamento de Nevermind, o segundo disco do Nirvana, que chegou ao Brasil ainda no mesmo ano em que o disco saiu nos Estados Unidos, exatamente há vinte e cinco anos. O momento em que pousei a agulha do toca-discos dos meus pais e o hoje clássico riff que abre Nevermind saiu das caixas de som no apartamento em que cresci em Brasília aconteceu em alguma tarde entre o fatídico 24 de setembro de 1991 e o natal do mesmo ano. Não sabia – quem sabia? – a revolução musical que começaria a ruir o império pop como o conhecíamos, mas era nítido que era um grande disco. Lembro ter percebido isso logo depois que a avalanche de energia que abre o disco era reduzida a uma linha de baixo que seguia uma bateria que marcava o tempo – depois de ambos galoparem por sobre nossos tímpanos – e a guitarra que antes rugia alto repetir apenas um fiapo de duas notas que nos preparava para a entrada do vocal. Antes de Kurt Cobain começar a falar para que nós carregássemos nossas armas e chamássemos nossos amigos era notável o quanto aquela música era incrível – e, como perceberia logo depois, todo o disco.

Já conhecia o Nirvana por ali inclusive, de ouvir falar na existência da banda através de algum fanzine emprestado por algum amigo, mas nunca tinha o escutado (uma situação recorrente naquela época – conhecer bandas apenas por escrito). Aos poucos fui ouvindo falar das notícias de que aquele disco havia pego a indústria fonográfica de surpresa, ao desbancar nomes como Michael Jackson e Guns'N Roses do topo das paradas de sucesso (e como eram horrorosas as paradas de sucesso dessa época para quem gostava daquele outro tipo de som), que o vocalista Kurt Cobain era um ícone de outro quilate (criado exatamente naquele ambiente alternativo surgido na brecha, filhote direto do Hüsker Dü e dos Pixies) e que eu só estava ouvindo aquele disco no Brasil alguns meses após seu lançamento porque ele tinha feito muito sucesso.

Foi aí que a ficha caiu: a brecha havia rompido o muro. A partir dali a indústria fonográfica e as rádios começaram a perder o controle (mesmo transformando a geração do Nirvana em uma cena comercial, tal como o proverbial bebê engolindo a isca da capa do disco) e as pessoas começaram a conhecer mais músicas. A partir de Nevermind, a brecha, que era um segredo, tornou-se pública e o mundo descobriu o submundo do pop quando ele já era adulto. O Nirvana era só o caçula daquele novo mercado que começaria a transformar completamente a cara do pop a partir dos anos 90. Quando o computador chegou pra facilitar a gravação de discos em casa e a internet chegou para facilitar distribuí-los, toda aquela safra de novos artistas que alimentaria aquele novo sistema já estava pronta. E a música nunca mais seria a mesma.

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Sobre o Autor

Alexandre Matias cobre cultura, comportamento e tecnologia há mais de duas décadas e sua produção está centralizada no site Trabalho Sujo (www.trabalhosujo.com.br), desde 1995 (@trabalhosujo nas rede sociais). É curador de música do Centro Cultural São Paulo e do Centro da Terra, do ciclo de debates Spotify Talks, colunista da revista Caros Amigos, e produtor da festa Noites Trabalho Sujo.

Sobre o Blog

A cultura do século 21 é muito mais ampla que a cultura pop, a vida digital ou o mercado de massas. Inclui comportamento, hypes, ciência, nostalgia e tecnologia traduzidos diariamente em livros, discos, sites, revistas, blogs, HQs, séries, filmes e programas de TV. Um lugar para discussões aprofundadas, paralelos entre diferentes áreas e velhos assuntos à tona, tudo ao mesmo tempo.

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