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"Ghetto Brother": Uma graphic novel sobre a pré-história do hip hop

Alexandre Matias

01/04/2016 12h18

Antes do hip hop era o inferno – assim nos conta a graphic novel Ghetto Brother – Uma Lenda do Bronx, de Julian Voloj e Claudia Ahlering, que a editora Veneta está lançando no Brasil e que fui convidado para traduzir em dupla com minha mulher Mariana Moreira Matias. O quadrinho conta a violenta história das periferias da Nova York dos anos 70 a partir do ponto de vista de uma de suas principais gangues, o grupo Ghetto Brothers. Mas apesar do clima hostil que atravessa suas mais de 100 páginas, o livro, que será lançado hoje em São Paulo com direito a discotecagem do DJ dos Racionais MCs, KL Jay, na loja Patuá Discos, é um grito de paz.

Por suas páginas acompanhamos a história de Yellow Benjy, portorriquenho que mudou-se para o Bronx com sua família numa época em que o bairro já não tinha o brilho de seus dias de ouro. A região foi arrasada por uma prefeitura obcecada com a indústria automobilística, que fez uma rodovia expressa cortar todo o bairro e destruiu casas e prédios, transformando a vizinhança numa zona de guerra. Nas ruas abandonadas pela administração municipal, grupos de jovens passaram a se comportar como gangues, definindo territórios e códigos de conduta na base da violência.

É a Nova York que inspira filmes violentos da virada dos anos 70 para os 80 como Fuga de Nova York, todos os Desejo de Matar de Charles Bronson e, principalmente, o clássico cult Warriors – Guerreiros da Noite. Este último é diretamente inspirado na história das brigas destas gangues que se dividiam por regiões, bairros e etnias, especificamente devido ao grande encontro de tribos que ocorre quando um crime deixa a cidade inteira à espera de uma guerra civil.

Os Ghetto Brothers originalmente eram apenas os irmãos cossanguíneos de Benjy, mas logo se tornaram uma das gangues mais respeitadas da cidade, reunindo latinos de todo o Bronx. O poder do grupo é dividido pela diplomacia de seu fundador e pela belicosidade de outro de seus líderes, "Karate" Charlie. Além de uma turma de briga eles também tinham uma banda com o mesmo nome, que misturava rock, funk e música latina ao mesmo tempo em que suas letras chamavam atenção para problemas sociais. E foi esta atitude que fez o grupo começar a mudar o curso da história ao plantar a semente que depois transformaria aquela mesma cena de grupos em guerra naquilo que depois ficou conhecido como a cultura hip hop.

A história contada na graphic novel também é assunto do documentário Rubble Kings, que tem apenas uma hora de duração e traz cenas da época, que está disponível para ser assistido no serviço de vídeos online Netflix. Os dois contam a mesma saga, mas não se esgotam – pelo contrário, são complementares. Enquanto o documentário esmiuça o nascimento da cena musical com foco inclusive na banda que levava o nome da gangue (rapidamente mencionada no livro), a HQ aprofunda-se na história da família de Benjy, recuperando tradições seculares diretamente relacionada aos conflitos nos anos 70.

O quadrinho será lançado neste sexta na Patuá Discos (R. Fidalga, 516, Vila Madalena (11) 2306-164), loja de discos de vinil na Vila Madalena, em São Paulo, entre as 18h e as 22h e contará com a discotecagem de KL Jay, DJ dos Racionais MCs.

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Sobre o Autor

Alexandre Matias cobre cultura, comportamento e tecnologia há mais de duas décadas e sua produção está centralizada no site Trabalho Sujo (www.trabalhosujo.com.br), desde 1995 (@trabalhosujo nas rede sociais). É curador de música do Centro Cultural São Paulo e do Centro da Terra, do ciclo de debates Spotify Talks, colunista da revista Caros Amigos, e produtor da festa Noites Trabalho Sujo.

Sobre o Blog

A cultura do século 21 é muito mais ampla que a cultura pop, a vida digital ou o mercado de massas. Inclui comportamento, hypes, ciência, nostalgia e tecnologia traduzidos diariamente em livros, discos, sites, revistas, blogs, HQs, séries, filmes e programas de TV. Um lugar para discussões aprofundadas, paralelos entre diferentes áreas e velhos assuntos à tona, tudo ao mesmo tempo.

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