David Bowie teria previsto que Kanye West seria seu sucessor
Alexandre Matias
25/01/2016 11h31
David Bowie, que morreu no início do mês, era conhecido por deixar pistas e mensagens escondidas em muitos de seus discos, uma lição que aprendeu com os Beatles, os Rolling Stones e o Pink Floyd, levando-as às últimas consequências em discos como Ziggy Stardust, Young Americans e Station to Station. Mas uma teoria que começou a ser revelada em 2007 ganhou força à luz da morte de Bowie e do lançamento de seu último disco, o criptico ★: David Bowie teria previsto o surgimento de Kanye West e apontado o rapper como seu sucessor.
É uma divertida série de coincidências que ganhou força principalmente pelo boato iniciado logo após a morte do ícone pop, em que Kanye West, uma das primeiras celebridades a lamentar publicamente a morte de Bowie, estaria preparando um disco em tributo ao recém-falecido astro, regravando seus clássicos enquanto rimava novas letras por cima. Sem nem mesmo ser confirmado o disco já é assunto de um abaixo-assinado para que ele não seja realizado, tamanha a aversão que algumas pessoas têm ao trabalho do rapper.
David Bowie, no entanto, gostava de Kanye West. E, segundo o blog The Kanye West / David Bowie Conspiracy, escrito em 2007, teria previsto sua ascensão como o novo deus do pop, tornando Bowie uma espécie de João Batista dessa nova religião. A principal prova da conspiração era a placa K.West que surge acima de Bowie na capa de seu emblemático disco The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, lançado em 1972.
A placa pertencia a uma couraria que realmente existia no local, mas muitos achavam que era uma mensagem cifrada por Bowie na capa do disco, bem antes de Kanye West surgir no cenário pop. Disse Bowie sobre a placa em uma entrevista â Rolling Stone em 1993:
"É uma pena que haja aquela placa. As pessoas liam tanto nela. Eles pensavam que 'K.West' era um código para 'quest' (busca). E tinha todos aqueles sobretons místicos."
O fato é que Ziggy Stardust, o disco, conta a história de um alienígena que chega à Terra para avisar que ela iria acabar em cinco anos ("Five Years" é a primeira música do disco) a menos que aparecesse um "homem das estrelas" para salvá-la. O disco foi lançado no dia 6 de junho de 1972. Exatamente cinco anos e dois dias antes do nascimento de Kanye West.
O complexo de deus de Kanye West já o levou a aparecer na capa da revista Rolling Stone com a coroa de espinhos de Jesus Cristo e a compor uma música chamada "I Am God", a terceira música de seu disco Yeezus. Essa referência foi acrescentada à teoria, que foi revisitada por usuários da rede social Reddit logo após a morte de Bowie. A representação de Kanye West como o salvador da música pop também teria sido referida pelo próprio Bowie em seu último álbum, quando escolheu "Lazarus" para ocupar a terceira posição de seu novo disco. Lázaro, sabemos, é o único personagem bíblico que volta do mundo dos mortos além do próprio Jesus Cristo.
A própria faixa-título daria ainda mais ênfase a esta teoria, quando, na segunda parte da canção, Bowie canta que:
"Algo aconteceu no dia em que ele morreu
O espírito ascendeu um metro e andou para o lado
Alguém tomou seu lugar e gritou bravamente:
'Eu sou uma estrela negra, eu sou uma estrela negra."
A estrela negra, portanto, poderia ser um astro negro, um popstar negro. Kanye West, quem mais?
São meras coincidências que não precisam ser levadas ao pé da letra, mas divertem só de serem cogitadas. Como o fato de Bowie poder ter homenageado, ao colocar uma estrela preta num fundo branco na capa do disco, a morte do amigo Marc Bolan, o líder do T-Rex, banda que começou a fazer sucesso na mesma época que o própro Bowie. No final dos anos 70, Bolan tinha um programa de TV em que apresentava novos e velhos nomes do pop inglês, chamado apenas de Marc. No sexto e último episódio do programa, Bolan recebe o próprio David Bowie como convidado, que canta "Heroes" ao final do programa. Assista a partir do minuto 20 no vídeo abaixo:
O programa tinha animações que faziam as vezes de plateia e é interessante notar a camiseta do integrante do meio da primeira fila da plateia desenhada.
Duas semanas após a gravação do programa, que aconteceu no dia 7 de setembro de 1977, Marc Bolan morreu num acidente de carro.
Sobre o Autor
Alexandre Matias cobre cultura, comportamento e tecnologia há mais de duas décadas e sua produção está centralizada no site Trabalho Sujo (www.trabalhosujo.com.br), desde 1995 (@trabalhosujo nas rede sociais). É curador de música do Centro Cultural São Paulo e do Centro da Terra, do ciclo de debates Spotify Talks, colunista da revista Caros Amigos, e produtor da festa Noites Trabalho Sujo.
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