Uma das melhores séries atuais, "Black Mirror" pode ir para o Netflix
Alexandre Matias
16/09/2015 10h11
Charlie Brooker é um dos grandes nomes da atual teledramaturgia inglesa e construiu sua reputação destruindo a da televisão: começou com a minissérie How TV Ruined Your Life, passou pelo pastiche de reality show Dead Set (em que faz uma brilhante convergência entre a onda de reality shows na TV e a volta dos zumbis) e continua semanalmente em seu Weekly Wipe, em que comenta não apenas as notícias da semana, mas a forma como as notícias foram retratadas na mídia. Tudo isso com a chancela magna da estatal BBC.
Mas sua grande obra-prima chama-se Black Mirror, uma série em episódios isolados, lançada em 2011, que reúne as preocupações de suas produções anteriores (com a TV, com a mídia e com o jornalismo) e as estende para a nova paisagem tecnológica. São contos, histórias que duram apenas um episódio e que se passam em realidades bem diferentes entre si – e da nossa. A analogia do título diz respeito aos monitores que passamos o tempo todo grudados – de computadores, de TVs, de celulares, tablets -, aparelhos que, desligados, se revelam um espelho negro em que esperamos onde buscamos sentid para nossas vidas. Como uma incômoda ficção científica (as melhores são assim), Black Mirror leva o conceito da onipresença aos limites do intolerável e funciona como uma espécie de Além da Imaginação do século digital, lidando com questões como relacionamentos, política, família, educação, trabalho e memória através de versões extremas de internet móvel, câmeras onipresentes, realidade aumentada, redes sociais, videogames, entretenimento eletrônico e vida digital.
A novidade é que o seriado está prestes a fechar um novo acordo de distribuição com o serviço de vídeos online Netflix. É o que apurou o site Radio Times – a empresa de Charlie Brooker estaria finalizando uma nova temporada para o Channel 4 da BBC ainda para este ano, que poderia estrear junto com o anúncio das temporadas anteriores (duas safras de três episódios e um especial de natal) no serviço digital. O Netflix também ajudaria na produção da próxima temporada, mas tudo isso ainda é especulação.
A vantagem da série ir para o Netflix é trazer as discussões levantadas por Brooker para um público global. Os dramas com os quais se envolvem os personagens dos episódios são versões exageradas de comportamentos que já são comuns hoje em dia e provocam a mesma sensação de humor quanto de desconforto. É um excelente retrato sobre os primeiros anos deste século, quando internet, computadores, redes sociais e smartphones deixaram de ser exceção.
Assista abaixo ao trailer da segunda temporada do seriado, que foi ao ar em 2013, para você ter uma ideia do clima.
Sobre o Autor
Alexandre Matias cobre cultura, comportamento e tecnologia há mais de duas décadas e sua produção está centralizada no site Trabalho Sujo (www.trabalhosujo.com.br), desde 1995 (@trabalhosujo nas rede sociais). É curador de música do Centro Cultural São Paulo e do Centro da Terra, do ciclo de debates Spotify Talks, colunista da revista Caros Amigos, e produtor da festa Noites Trabalho Sujo.
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A cultura do século 21 é muito mais ampla que a cultura pop, a vida digital ou o mercado de massas. Inclui comportamento, hypes, ciência, nostalgia e tecnologia traduzidos diariamente em livros, discos, sites, revistas, blogs, HQs, séries, filmes e programas de TV. Um lugar para discussões aprofundadas, paralelos entre diferentes áreas e velhos assuntos à tona, tudo ao mesmo tempo.