Iron Maiden pega os fãs pelo nerdismo ao contar a história dos videogames
Alexandre Matias
14/08/2015 19h24
Quando falei sobre a primeira vez que o Rush chegou à capa da revista "Rolling Stone" – depois de 40 anos de existência – mencionei o fato da banda e de seus fãs se comportarem como nerds musicais, completamente obcecados pela mitologia e pelo virtuosismo do grupo canadense como jogadores de RPG e fãs de Senhor dos Anéis. Não é uma característica exclusiva do Rush: há várias bandas populares que flertam com esse nível de fanatismo e dois gêneros específicos – o heavy metal e o rock progressivo – se esmeram em cativar novos adeptos com o mesmo nível de sedução antissocial que atrai leitores para quadrinhos de super-heróis ou espectadores para filmes de ficção científica.
O Iron Maiden vem apenas reforçar essa minha tese ao apresentar o primeiro passo de sua nova fase, o décimo sexto disco de estúdio da banda (numa discografia com quase quarenta discos, entre álbuns ao vivo, EPs e coletâneas), The Book of Souls, anunciado para o início do mês que vem. O novo disco consagra a banda como um clássico de si mesmo e o clipe de "Speed of Light" ao mesmo tempo em que cultua a história da banda, compara a evolução do grupo com a de uma mídia igualmente quarentona: o videogame.
Sim – o Iron Maiden se compara à história do videogame em um clipe bem… nerd, em que cada fase da banda remete a um tipo de videogame -, sempre protagonizado pelo mascote do grupo, o clássico Eddie, há a fase Killers meio Donkey Kong, a fase Somewhere in Time e Powerslave como jogo de plataforma, Number of the Beast é jogo de luta e por aí vai.
Aparentemente é só uma grande piada interna com as fases da banda, mas há um potencial gigantesco apenas na possibilidade do Iron Maiden lançar seus próprios games, sem contar apenas camisetas e afins com as cenas deste único clipe (o grupo já lançou um jogo em 1999, chamado Ed Hunter, mas não deu muito certo). A banda já é conhecida por saber faturar com merchandising, mas com quase quarenta anos de atividade e vivendo uma fase de volta por cima – o mítico vocalista Bruce Dickinson venceu um câncer na parte posterior da língua -, o Iron Maiden está longe de ser uma banda cover de si mesma, basicamente porque entendeu o quão nerds são seus fãs.
Longa vida ao Iron Maiden! Aliás, pergunta sincera: eles já foram capa da Rolling Stone?
Sobre o Autor
Alexandre Matias cobre cultura, comportamento e tecnologia há mais de duas décadas e sua produção está centralizada no site Trabalho Sujo (www.trabalhosujo.com.br), desde 1995 (@trabalhosujo nas rede sociais). É curador de música do Centro Cultural São Paulo e do Centro da Terra, do ciclo de debates Spotify Talks, colunista da revista Caros Amigos, e produtor da festa Noites Trabalho Sujo.
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