Filme ou videogame?
A computação gráfica tem deixado os videogames cada vez mais realistas, mas isso é bom para o cinema como linguagem? Esse experimento feito pela produtora Corridor Digital, dos norte-americanos Sam Gorski, Niko Pueringer e Jake Watson, que recriou cenas do já clássico GTA usando atores de verdade, é uma boa resposta a esse questionamento. O resultado é impressionante:
E as premissas abertas são igualmente surpreendentes: a linguagem visual dos jogos mais realistas ainda é irreal o suficiente para que ela possa ser clonada apenas com gente e câmera, sem animação digital (fora uns retoques aqui e ali).
Experimentos deste tipo já foram realizados em filmes lançados no cinema, como o formidável Arca Russa, de Aleksandr Sokúrov…
…e o filme de Gus Van Sant sobre o massacre de Columbine, o ótimo Elephant.
Estes dois filmes já utilizavam a estética dos jogos em primeira pessoa (uma variação dos games para o movimento de travelling e das tomadas sem corte já desenvolvida no cinema) como linguagem e este novo curta da Corridor Digital é mais um degrau rumo à inevitável fusão entre as duas mídias e linguagens.
Muita gente criticou o segundo filme dos Vingadores como se o diretor Joss Whedon nos obrigasse a assistí-lo jogando uma partida de videogame (uma atividade tão comum quanto jogar videogame, diga-se). Fico imaginando um filme com cenas "jogáveis" é um dos desenvolvimentos naturais da "experiência imersiva" que os filmes em Imax ou em 3D prometem a seu público. Uma sala de cinema num futuro próximo em que cada espectador controla um figurante numa cena com vários extras – por exemplo, um campo de batalha ou uma briga de gangues – mesmo que isso não influencie no resultado final do filme e que ninguém controle o protagonista.
Porque quando chegarmos ao ponto de termos um filme tão jogável quanto um game, a indústria do entretenimento vai virar do avesso.
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