Suicídio, drogas e rock’n’roll: o que é causa e o que é consequência nas mortes de Ian Curtis a Chester Bennington
Instigado pelo punk rock dos Sex Pistols, Ian Curtis foi um dos poucos habitantes de Manchester que assistiram ao mítico show que a banda inglesa fez em sua cidade. Entre os poucos que estavam no público estavam nomes que depois foram bandas como The Fall e The Smiths, além da gravadora Factory. Formou uma das primeiras bandas que instigaram o punk para ir além da agressividade e liderando o Joy Division inaugurou uma nova categoria e um novo jeito de se fazer rock. Gravou dois discos com esta banda e às vésperas da primeira turnê nos Estados Unidos, depois de lançar o disco Closer que tornaria a banda um sucesso, enforcou-se na cozinha de casa, ao som do disco The Idiot, de Iggy Pop.
Kurt Cobain era um nerd norte-americano fascinado pelo indie rock dos anos 80 e pelo hard rock dos anos 70. Formou uma banda que fundiriam as duas vertentes, a princípio antagônicas, e liderando o Nirvana mudaria a cara da indústria fonográfica no início dos anos 90 ao subverter os parâmetros do mainstream e do underground. Preso entre o sucesso e o antissucesso, pagou caro ao viver este paradoxo ao sucumbir à depressão e às drogas pesadas, que finalmente o levaram a meter uma bala na cabeça na casa em que morava em Seattle.
Ian Curtis morreu antes de fazer sucesso. Kurt Cobain morreu depois. Ambos tiraram suas próprias vidas e, a partir de suas mortes, era possível detectar que algo não estava bem com eles.
É fácil chegar a esta conclusão após gestos drásticos de suicidas famosos. Mesmo casos anteriores – como Graham Bond e Richard Manuel – e posteriores – como as recentes mortes de Chris Cornell e Chester Bennington -, causam a sensação de que a música foi o catalisador de sentimentos pessimistas e depressivos que culminaram com a própria morte. Quando, na verdade, foi o contrário.
Foram estes sentimentos que os levaram para a música. Foi a vontade de exprimir sensações que não eram facilmente traduzidas em palavras que os colocou em frente a uma banda, os transformou em astros do rock que conseguiam traduzir estas angústias em letra, música e eletricidade. Não foi o rock que tirou suas vidas ao levá-los para o mundo do sexo, drogas e rock'n'roll ou para o mundo do showbusiness, da indústria e da fama. O gesto final de suas biografias foi a última tentativa de sucumbir sensações que sempre os acompanharam, mesmo antes de montarem suas bandas.
Suas carreiras musicais eram tentativas de superar dores que sempre estiveram presentes. Não foi a tristeza, a angústia e a depressão que simplesmente tiraram suas vidas – foram elas que os transformou em autores, músicos e astros do rock. O luto dos fãs não é apenas a tristeza da perda de um ídolo, mas o reconhecimento de que aquilo que eles sempre falaram em suas músicas era de verdade.
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