Se prepare: tudo que a Marvel fez até "Guerra Civil" era só rascunho
Estamos vivendo numa época em que os grandes produtos da cultura pop quase sempre acertam exatamente onde devem acertar. As melhores séries de TV, filmes, quadrinhos, livros, discos e videogames deste início de século têm construído narrativas épicas e universos complexos que tiram o fôlego só por sua envergadura e a expectativa é quase sempre – milimetricamente – alcançada. E é impossível ignorar o feito do estúdio Marvel nos últimos 10 anos ao erguer seu império no cinema. Mais do que lançar filmes, a versão cinematográfica da editora de quadrinhos é um meticuloso castelo de cartas erguido com grandes nomes de seu universo. Personagens menores ganharam um protagonismo inesperado e o sucesso de cada um dos doze filmes que o estúdio lançou até 2015, quando encerrou seu segundo capítulo no cinema, é apenas o resultado de uma estratégia genial que combina marketing, exercício de narrativas, carisma e muito planejamento.
E aí vem Capitão América: Guerra Civil e muda as regras do jogo. Esqueça aquilo que você está esperando ver. Neste décimo terceiro filme da Marvel, o estúdio resolve aumentar a exigência em si mesmo, tornando mais difícil o trabalho para os super-heróis concorrentes. O novo filme não apenas faz como os anteriores: ele supera as expectativas nos mostrando o universo Marvel com outros olhos, com um frescor inacreditável, ao mesmo tempo em que começa a provocar uma discussão mais adulta que mexe levemente no humor da saga sem deixar tudo sombrio. Logo após os gifs comento o filme com poucos spoilers, mas se você não quiser saber nada, embace a vista e volte depois que assistir ao filme, que estreia esta semana no Brasil.
Para começar, Guerra Civil não é exatamente um Vingadores 2 e 1/2, como a escalação de diversos heróis fez parecer. Há sim a incrível cena em que os times do Capitão América e do Homem de Ferro se enfrentam, mas ela não é o grande momento do filme. É uma cena de tirar o fôlego, o sonho materializado de todo mundo que cresceu lendo os gibis da Marvel, o confronto épico entre super-heróis que toda criança realizou com seus brinquedos. Mas não é nem a conclusão da história, nem seu maior momento, nem sua grande surpresa. É tudo o que a Marvel poderia ter feito em Vingadores: A Era de Ultron, mas preferiu repetir a fórmula para gastá-la de ver, guardando este grande momento com inúmeros super-heróis para o terceiro filme do Capitão América.
Porque não custa lembrar disso: é um filme do Capitão América. É a conclusão da trilogia iniciada em Capitão América: O Primeiro Vingador, de 2011, quando Steve Rogers nos foi apresentado como um herói de época. Na continuação deste, Capitão América: Soldado Invernal, de 2014, vemos este herói se situando em uma nova era ao mesmo tempo em que os irmãos Joe e Anthony Russo entregavam o melhor filme da Marvel. Os dois repetem o feito ao segurar as rédeas deste terceiro volume sobre o velho capitão, que ao mesmo tempo em que amplia seu dilema moral sobre o fato de pertencer a outra época também aprofunda-se nos próprios sentimentos. Não por acaso Chris Evans, o ator que vive o herói, tem um tapete estendido para sua melhor atuação.
O Homem de Ferro de Robert Downey Jr. também tem grandes momentos, principalmente por parecer está despedindo-se do personagem. A premissa básica do filme está diretamente ligada à adolescência de Tony Stark e por isso ele é o único herói que se envolve diretamente na trama central do protagonista, funcionando como contraponto para a ausência de um vilão mais forte. O Barão Zemo vivido por Daniel Bruhl é apenas apresentado como arquiteto da trama principal, mas não tem seu grande confronto contra ninguém e apenas deixa que o filme termine com o duelo entre Steve Rogers e Tony Stark, que vai crescendo em diálogos cada vez menos engraçadinhos à medida em que o filme anda.
Todos os outros heróis também têm seus grandes momentos, uns mais humanizados que outros, uns mais pesados que outros, e assim a Marvel vai mostrando a cara de sua nova fase. Não é necessariamente um universo mais sombrio e opressor como os sinais dados pelas séries em parceria com o Netflix davam a entender. O novo filme aproxima o universo Marvel da realidade, deixando-o menos infantilizado e mais adulto. Mas isso não quer dizer que o tom seja sério e que não há espaço para o humor – muito pelo contrário. O humor agora não é feito mais para rir e sim para aliviar as cenas de tensão e de ação, dividindo a audiência do filme entre a apreensão calada e a comemoração sorridente. Cenas como a do Visão falando sobre comida, a do Homem Formiga conhecendo os outros heróis ou as piadinhas do Gavião Arqueiro ajudam a quebrar o gelo ao mesmo tempo em que mostram uma outra forma de encarar os super-heróis.
Mas nada pode nos preparar para o Homem-Aranha.
A entrada de Peter Parker (vivido pelo moleque Tom Holland) no Universo Cinematográfico Marvel é um acontecimento por si só – e vale mais do que a história principal do filme. É o mesmo personagem que conhecemos há décadas (inclusive no cinema), mas há um frescor, uma novidade, uma juventude em tudo relacionado à sua presença que muda todas as nossas expectativas em relação aos próximos filmes. Você se lembra quando viu os primeiros filmes do Homem Aranha de Sam Raimi, os primeiros X-Men de Bryan Singer, os primeiros filmes do estúdio Marvel funcionando melhor do que você imaginava, o brilho épico do primeiro Vingadores? Ou, se estamos falando de super-heróis em geral, o Super-Homem de Christopher Reeve ou o Batman de Christian Bale? É muito difícil repetir a sensação de novidade depois que assistimos a tantos filmes de super-herói. E ao apresentar novamente o Homem Aranha, a Marvel se supera.
Sim, ainda há o espetacular T'Challa, o drama pessoal de Wanda Maximoff, o destino de James Rhodes, o que acontece com Bucky, a aparição de Ossos Cruzados, o momento Stan Lee, a cena escondida no final, a identidade do personagem de Martin Freeman, a volta do General Ross, a Hydra e um drama pessoal de Tony Stark. Mas tudo isso fica em segundo plano com a forma que a Marvel nos reapresenta o Homem Aranha. E, claro, das cenas de ação – os irmãos Russo talvez sejam os melhores diretores do gênero em atividade. E mostra que tudo que o estúdio fez até agora era só rascunho para uma fase 3 que promete.
Depois eu falo mais sobre o filme – aí sim com spoilers. Mas deixa o filme estrear e mais gente assistir. O Sadovski também gostou do filme, lê lá.
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