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O futuro dos Beastie Boys

Alexandre Matias

19/07/2015 20h31

miked-adrock

No início deste mês, o advogado norte-americano David Lizerbram publicou em seu blog uma nota que chamava atenção para um registro que os dois beastie boys remanescentes – Michael Diamond e Adam Horovitz, mais conhecidos pelos apelidos Mike D e Ad-Rock – fizeram no final de junho junto ao escritório de patentes nos Estados Unidos, que reforçava que a marca "Beastie Boys" era de propriedade dos dois e que seu uso também incluía "apresentações ao vivo" .Isso levou o advogado a especular que o registro talvez era uma indicação de que os dois poderiam sair em turnê usando o nome do velho grupo, o que foi negado em seguida pelos representantes diretos dos dois rappers. "Nunca haverá performances ao vivo dos Beastie Boys sem Adam Yauch", a assessoria de imprensa do grupo explicou em nota à revista Rolling Stone, mencionando o terceiro integrante da banda, Adam Yauch – também conhecido por MCA – que morreu de câncer em 2012.

Um dos grupos mais importantes do final do século passado, os Beastie Boys foram cruciais na popularização do hip hop ao ser o primeiro grupo formado por brancos a ter respaldo junto aos artistas que inventaram o gênero. Com seu primeiro disco, Licensed to Ill, de 1986, escancaram as portas do pop dos anos 80 para o novo gênero com hits e clipes impagáveis. Seu segundo disco, o fantástico Paul's Boutique, levou o trio para além do rap ao explorar novas sonoridades musicais que iriam dar origem a subgêneros na década seguinte como o big beat e o trip hop, além de usar e abusar de samples numa época em que não havia legislação sobre seu uso. Os próximos dois discos – os irmãos Check Your Head e Ill Communication – consagraram a banda como um dos grupos mais importantes dos anos 90, quando eles encontraram o equilíbrio entre seu passado hardcore, sua alma hip hop e devaneios instrumentais rumo ao funk e ao jazz à medida em que cada um dos três rappers voltou a tocar seu instrumento: Ad-Rock na guitarra, MCA no baixo e Mike D na bateria. Nesta época também especializaram-se em clipes memoráveis (o de "Sabotage" talvez seja sua obra-prima), EPs e projetos paralelos (bandas com outros artistas, shows-tributo, a revista Grand Royal) e na obsessão pelos anos 70, tornando-os o equivalente musical do que Quentin Tarantino fazia no cinema.

A carreira do grupo seguiu célebre pelo século 21, com discos menos inspirados mas não menos ousados, mas foi drasticamente interrompida pela morte de MCA, em abril de 2012. Os dois beastie boys remanescentes nunca cogitaram voltar com o grupo após a morte do amigo, reforçando que fora ele quem havia iniciado a banda. O atual registro de patente tem mais a ver com um dos desejos expressos por MCA em seu testamento – que proibia a utilização de suas músicas em publicidade -, ajudando Ad-Rock e Mike D a processar quem ousasse se aproveitar das músicas da banda para vender algo.

O que não quer dizer que os dois abandonaram a música nem que nunca mais irão trabalhar juntos, o que já fizeram. Em 2013 produziram a faixa "Bad Dancer", de Yoko Ono, além de participar do clipe da viúva de John Lennon, ao lado de outros famosos como o baterista Questlove, o cantor Reggie Watts, a cantora Roberta Flack, as meninas do Cibo Matto, entre outros.

E no início deste ano, mesmo reforçando que não iriam tocar mais como Beastie Boys, não negaram poder voltar a trabalhar juntos, em uma entrevista ao site do semanário NME: "Em algum momento faremos algo", disse Ad-Rock. Os dois também estão trabalhando em uma antologia dos Beastie Boys, que deverá ser lançada em algum momento entre 2017 e 2018.

Sobre o Autor

Alexandre Matias cobre cultura, comportamento e tecnologia há mais de duas décadas e sua produção está centralizada no site Trabalho Sujo (www.trabalhosujo.com.br), desde 1995 (@trabalhosujo nas rede sociais). É curador de música do Centro Cultural São Paulo e do Centro da Terra, do ciclo de debates Spotify Talks, colunista da revista Caros Amigos, e produtor da festa Noites Trabalho Sujo.

Sobre o Blog

A cultura do século 21 é muito mais ampla que a cultura pop, a vida digital ou o mercado de massas. Inclui comportamento, hypes, ciência, nostalgia e tecnologia traduzidos diariamente em livros, discos, sites, revistas, blogs, HQs, séries, filmes e programas de TV. Um lugar para discussões aprofundadas, paralelos entre diferentes áreas e velhos assuntos à tona, tudo ao mesmo tempo.

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