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O Dark Side of the Moon pode ser sincronizado com "O Despertar da Força"?

Alexandre Matias

13/02/2016 17h56

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Mais uma da série: como é que as pessoas arrumam tempo pra isso? Um usuário da rede social Reddit resolveu ver se o velho truque do Mágico de Oz funcionava com o novo episódio de Guerra nas Estrelas e achou uma série de coincidências entre o disco clássico do Pink Floyd de 1973 e o novo filme da saga dos Skywalkers – e cogita a possibilidade de J.J. Abrams ter sincronizado seu filme para que ele se encaixasse com consecutivas audições do disco Dark Side of the Moon, o famoso disco do prisma.

O autor da maluquice diz que devemos colocar o disco do Pink Floyd para tocar assim que o letreiro de abertura do Episódio VII sair da tela e a câmera começar a se mover. Segundo o próprio, o disco deve ser repetido por três vezes consecutivas e cada audição cobre um dos três atos do filme, que duram os cerca de 40 minutos de duração do disco. A partir daí, vários trechos do filme se encaixam com letras e músicas do disco dos anos 70. Traduzo algumas das "coincidências" de sua lista a seguir (com spoilers caso você ainda não tenha visto o filme de J.J. Abrams):

– A música "Time", sobre o papel do tempo em nossas vidas, é tocada enquanto vemos a personagem Rey viver sua rotina sem graça no início do filme. "Passeando por aí em um canto qualquer de sua cidade natal", canta a letra, "esperando por alguém ou algo te mostrar o caminho", como também esperava a própria Rey;

– Ao final de "Time", a música canta sobre "ouvir as suaves palavras mágicas" quando Kylo Ren conversa com o capacete de Darth Vader;

– O piloto Poe Dameron acorda em frente a Kylo Ren, que começa a torturá-lo para saber o paradeiro do robô BB-8. Como no filme, o disco repete a arrogância de Poe frente ao vilão, com a frase "Eu não tenho tenho medo de morrer / Pode acontecer a qualquer hora", da faixa "The Great Gig in the Sky". O solo vocal dessa música começa quando Poe começa a ser torturado;

– A letra de "Us and Them" que canta "no fim das contas somos homens comuns" toca quando Finn se apresenta a Rey como integrante da Resistência e diz que é assim que os integrantes da Resistência parecem;

– A letra "tire suas mãos das minhas coisas" é tocada em dois momentos em que personagens pegam sabres de luz que não são seus: primeiro quando Rey pega o sabre no baú de Maz Kanata e depois quando Han Solo pega o de Kylo;

– Em outra repetição de "Us and Them", a música toca quando a Primeira Ordem invade o palácio de Maz Kanata. Kylo Ren aparece quando David Gilmour canta "Black…" e Finn recebe o sabre de luz (que é azul) das mãos de Maz quando o vocalista continua "…and blue". Maz avisa a Finn que aquilo que ele está segurando é uma arma no exato momento em que a música fala em "Só Deus sabe / Que não é o que escolhemos fazer."

– A frase "Eu não tenho medo de morrer" aparece mais uma vez na última cena de Han Solo, logo que a câmera filma o personagem;

– "Us and Them" toca pela última vez quando Kylo Ren enfrenta Rey no último duelo de sabres do filme: "Preto e azul / E quem sabe qual é qual, quem é quem", o que teria a ver com o passado desconhecido dos dois personagens;

– A música "Brain Damage" encaixa-se perfeitamente com a última cena do filme, em que Rey encontra Luke Skywalker: "O lunático está na grama / (…) Tem de manter os lunáticos no caminho".

Uma grande e deliciosa maluquice, sincronizar discos com filmes é um passatempo divertido porque coloca espectadores em buscas de coincidências que, inevitavelmente (sejam quais forem os filmes ou os discos acontecerão). Dark Side of the Moon é um favorito nessas brincadeiras porque suas letras vagas sobre o sentido da vida podem se encaixar com quase todo filme – e também porque o disco do Pink Floyd que iniciou essa brincadeira quando, ainda nos anos 70, surgiu uma lenda urbana que o grupo inglês teria sincronizado seu hoje clássico disco com o filme O Mágico de Oz, de 1939, utilizando mudanças de cenas e trechos de letras para baterem com o filme sobre a busca da jovem Dorothy ao maravilho mago de Oz. A principal coincidência se dá no fato de que a parte preto e branco do filme termina exatamente no momento em que termina o lado A do disco, mas outras sincronias parecem acontecer no decorrer de todo o mashup, que alguém, claro, já sincronizou e colocou online:

A banda sempre negou a coincidência mas divertiu-se com ela oficialmente: procure personagens do filme na capa do disco Pulse, que a banda lançou em 1995 e trazia, pela primeira vez, o registro oficial do Pink Floyd tocando o Dark Side of the Moon ao vivo na íntegra:

pulse

É claro que tudo é uma enorme coincidência e, no fim das contas, quem brinca com essas sincronias sempre tem de estar aberto a diferentes possibilidades, então acaba vendo o que quer. Não deixa de ser um divertido aspecto da nossa cultura atual, ainda mais agora que temos todas as facilidades tecnológicas à disposição (no meu tempo cheguei a sinicronizar o vinil do Pink Floyd com o VHS do Mágico de Oz, pra você ter uma ideia). E mesmo assim: imagine só o trabalho do cara em fazer isso com um filme que ainda nem foi lançado em DVD…

Sobre o Autor

Alexandre Matias cobre cultura, comportamento e tecnologia há mais de duas décadas e sua produção está centralizada no site Trabalho Sujo (www.trabalhosujo.com.br), desde 1995 (@trabalhosujo nas rede sociais). É curador de música do Centro Cultural São Paulo e do Centro da Terra, do ciclo de debates Spotify Talks, colunista da revista Caros Amigos, e produtor da festa Noites Trabalho Sujo.

Sobre o Blog

A cultura do século 21 é muito mais ampla que a cultura pop, a vida digital ou o mercado de massas. Inclui comportamento, hypes, ciência, nostalgia e tecnologia traduzidos diariamente em livros, discos, sites, revistas, blogs, HQs, séries, filmes e programas de TV. Um lugar para discussões aprofundadas, paralelos entre diferentes áreas e velhos assuntos à tona, tudo ao mesmo tempo.

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