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Que pistas o seriado "Jessica Jones" pode nos dar sobre a fase 3 da Marvel?

Alexandre Matias

27/10/2015 14h18

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O Netflix e a Marvel revelaram na semana passada, durante a Comic Con de Nova York, o primeiro trailer oficial do segundo seriado que fizeram em parceria. Ei-lo:

Embora não conte uma história completa, ele já revela muito do que podemos esperar sobre o seriado.

Jessica Jones, para quem não conhece, é uma personagem criada neste século pelo escritor Brian Michael Bendis, um dos principais nomes dos quadrinhos atualmente. Sua criação começou como uma variação da Mulher-Aranha, Jessica Drew, mas logo ele achou melhor criar uma outra personagem a partir da transformação drástica que havia proposto para a super-heroína original. Ele manteve o mesmo prenome como uma homenagem e inventou uma ex-super-heroína que havia abandonado os tempos do uniforme para atuar apenas como detetive particular. Protagonista da série de quadrinhos Alias (que começou exatamente no mesmo 2001 em que a série de mesmo nome de J.J. Abrams, embora elas não tenham nenhuma relação), Jessica Jones foi um dos personagens da Marvel mais bem sucedidos nos quadrinhos deste século e trazia um universo cru e pesado, com uma narrativa perturbadora e o traço rude de Michael Gaydoos desenhava personagens desagradáveis, mesmo quando não eram vilões. Jessica Jones tem superpoderes mas prefere trabalhar como investigadora, talvez devido a alguma mancha em seu passado de identidade secreta.

É esperto por parte da parceria Marvel/Netflix colocá-la no mesmo bairro que o Demolidor, um personagem que hoje é considerado clássico, mas que era apeans um herói de segunda linha antes de Frank Miller tê-lo transformado em protagonista de algumas das maiores sagas das histórias de super-herói. Mas além do personagem dar um tom de crueza e violência que os teasers e este novo trailer de Jessica Jones parecem manter, ele também pode ser o parâmetro utilizado para toda a fase 3 da Marvel, que oficialmente começa nos cinemas no ano que vem com o terceiro filme do Capitão América, Guerra Civil, mas que já pode ser sentida na chegada de duas novas temporadas de seriado: a primeira de Jessica Jones (que estreia inteira dia 20 de novembro) e a terceira temporada de Agents of S.H.I.E.L.D., que acaba de estrear nos Estados Unidos. E o tom de ambas – como o da primeira temporada de Demolidor, lançada no primeiro semestre deste ano – é de desilusão, frustração, violência, traição e angústia. Era algo que eu já havia percebido no fim do Vingadores 2 e que vem se concretizando com estas duas novas temporadas.

Os filmes que já foram anunciados todos trabalham com estes sentimentos: Guerra Civil racha os super-heróis ao colocar frente a frente o Capitão América contra o Homem de Ferro, o subtítulo do terceiro filme de Thor – Ragnarok – é o termo nórdico para o juízo final, Guardiões da Galáxia 2 deve mexer com o passado de Peter Quill (e há quem diga que ele é sobrinho de Thanos!), além do clima apocalíptico do terceiro Vingadores, Guerra Infinita, dividido em duas partes. Fora esses filmes, ainda temos a estreia do Doutor Estranho, Pantera Negra e Capitã Marvel, personagens que fogem do clima alto astral dos personagens da Marvel. Os próprios Inumanos, que encerram a fase em 2019, já são personagens centrais na atual temporada do seriado Agents of S.H.I.E.L.D.

Jessica Jones ainda pode acrescentar um elemento importante nesta nova fase da Marvel: sexo. A partir deste seriado, a Marvel começa a explorar o público feminino e a mulher como força narrativa – e deixa de ser um clube do Bolinha. Ela é a primeira super-heroína protagonista de uma adaptação da Marvel, quatro anos antes da Capitã Marvel, que só ganhará seu filme em 2019. A novidade não fica só na tela – Jessica Jones ainda tem mulheres nos bastidores: é o primeiro produto do estúdio Marvel tocado por uma mulher – a produtora Melissa Rosenberg, que também fez Dexter, Birds of Prey e os filmes da saga Crepúsculo – e dirigido por uma mulher – S.J. Clarkson (que trabalhou em Heroes e Orange Is the New Black) -, ao menos nos dois primeiros episódios. E toda essa feminilidade aflorada faz o sexo aparecer não apenas na divisão de gêneros, mas nas vias de fato: há uma breve cena no trailer que mostra que Jessica pode viver um dos momentos mais controversos de seu personagem em quadrinhos, quando se envolve de forma mais intensa com Luke Cage, que terá seu próprio seriado em breve, mas que por enquanto é apenas um coadjuvante.

E ainda há o vilão Kilgrave, o Homem Púrpura, que não só já mostrou uma outra faceta do ator David Tennant (reconhecível como um dos Dr. Who, da série de mesmo nome da BBC) nos trailers, como também deve abrir uma nova dimensão nesta fase 3: a da magia. Afinal de contas, as séries Marvel/Netflix ainda contarão com o personagem místico Punhos de Ferro e a primeira temporada do Demolidor dava pistas que esse era um caminho inevitável. Junte isso com a chegada de Doutor Estranho no ano que vem e essa camada de misticismo também deve dominar a próxima fase da editora que virou estúdio de cinema.

Sobre o Autor

Alexandre Matias cobre cultura, comportamento e tecnologia há mais de duas décadas e sua produção está centralizada no site Trabalho Sujo (www.trabalhosujo.com.br), desde 1995 (@trabalhosujo nas rede sociais). É curador de música do Centro Cultural São Paulo e do Centro da Terra, do ciclo de debates Spotify Talks, colunista da revista Caros Amigos, e produtor da festa Noites Trabalho Sujo.

Sobre o Blog

A cultura do século 21 é muito mais ampla que a cultura pop, a vida digital ou o mercado de massas. Inclui comportamento, hypes, ciência, nostalgia e tecnologia traduzidos diariamente em livros, discos, sites, revistas, blogs, HQs, séries, filmes e programas de TV. Um lugar para discussões aprofundadas, paralelos entre diferentes áreas e velhos assuntos à tona, tudo ao mesmo tempo.

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