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O novo Vingadores dá várias deixas para a fase 3 da Marvel no cinema

Alexandre Matias

28/04/2015 01h35

Atenção: se você não assistiu a Vingadores: A Era de Ultron, cuidado que esse texto contém spoilers.

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Confesse: você também ficou esperando pela última cena depois dos créditos. Fomos avisados que a cena não viria, mas um boato na semana passada ventilou – para depois ser desmentido – que existia sim uma cena escondida ao final do segundo volume do blockbuster dos Vingadores, batizado de A Era de Ultron. Mas a cena escondida não veio. Com o novo filme, a Marvel mostra que pegar pesado e surpreender os fãs com a terceira fase de seu universo no cinema, que está prestes a começar. Mas antes teve que criar uma série de ganchos para justificar a nova etapa – e todos eles estão no novo Vingadores. O primeiro sacrifício – o fim da cena escondida – foi simbólico.

A cena mostrada após os créditos finais tornou-se a marca registrada do estúdio Marvel desde seu primeiro filme, o hoje longínquo primeiro Homem de Ferro, de 2008, que mostrava, aos poucos, o Nick Fury vivido por Samuel L. Jackson funcionando como um narrador alternativo que interligava os novos filmes do estúdio em uma certa "iniciativa Vingadores". O projeto de reunir os principais super-heróis numa mesma equipe também era uma metáfora para o que a Marvel começava a construir no cinema. Usando o novo Nick Fury como fio condutor, o estúdio aos poucos foi revelando mais um reboot em sua mitologia, o primeiro feito fora dos quadrinhos. O Marvel Cinematic Universe – referido pela indústria e pelos fãs pela sigla MCU – foi armado ao mesmo tempo em que a iniciativa de Fury era montada no roteiro, filme a filme: os dois primeiros Homem de Ferro, o primeiro Thor, o primeiro Capitão América, até que, finalmente, o time inteiro era reunido num filme que mudou os parâmetros dos filmes de super-herói e o tornaram essa tendência tão forte na segunda década deste século.

Quando viu seu plano dar certo, a Marvel começou seu segundo e ousado passo. Agora não bastava apenas lidar com heróis manjados, mesmo porque uma parte importante deles – os X-Men, o Homem-Aranha, o Quarteto Fantástco e até os filmes solo do Hulk – está nas mãos de outros estúdios. E ao mesmo tempo que era preciso desenvolver melhor o conceito de filme de super-herói, explicando que super-herói não é um gênero dramático. Assim, a fase 2 da Marvel, inciada após o terceiro Homem de Ferro, teve um filme épico (o segundo Thor), um filme de espionagem (o segundo Capitão América, o melhor filme do estúdio até agora) e um de ficção científica (o primeiro Guardiões da Galáxia). Este último foi o grande teste do estúdio nessa segunda fase: fazer um filme com super-heróis virtualmente desconhecidos (uma equipe espacial bizarra que fez sucesso nos anos 70) tornar-se um sucesso graças à combinação de um bom elenco, bons diálogos, personagens carismáticos, efeitos especiais e cenas de ação do tipo montanha russa. Roteiro? Atuações? Profundidade? Tudo isso é secundário nas duas primeiras fases deste universo cinematográfico.

O que nos leva ao segundo Vingadores. Ele tem o mesmo fôlego do terceiro Capitão América ou do segundo Thor, mas trabalha na escala macro do primeiro filme. E, mais do que isso, tem o árduo desafio de repetir do sucesso do primeiro Vingadores ao mesmo tempo em que prepara o terreno para a terceira fase do Marvel Cinematic Universe, anunciado no fim do ano passado.

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É um filme formulaico em sua precisão. Em nenhum momento cogitamos a hipótese de que haja uma destruição na escala da que arrasou Nova York no primeiro filme – a dúvida fica sempre em saber como os Vingadores conseguirão impedir o vilão da vez, Ultron, de concretizar seu plano maligno. O filme é raso assim (como todos os filmes da Marvel até agora) e talvez essa seja a maior dececpção do filme: tratar Ultron, um personagem tão importante no universo Marvel como um mero "vilão da vez". Mas Vingadores compensa isso começando a cutucar por baixo da superfície do que conhecemos.

Pois a conexão do segundo Vingadores com a terceira fase da Marvel não diz respeito apenas aos filmes – e aí entra a secreta desta segunda fase: as séries de TV e, especificamente, o seriado do Demolidor. Na verdade a produção de séries de TV que pertence ao mesmo universo dos filmes foi a outra grande aposta do estúdio nessa segunda fase. Agents of S.H.I.E.L.D. parte do pressuposto que une os Vingadores no primeiro filme (a morte do agente Coulson, vivido por Clark Gregg) e Agente Carter conversa com o primeiro Capitão América ao mesmo tempo em que ambas começam a testar novos gêneros antes dos filmes: S.H.I.E.L.D. é uma série de espionagem e ficção científica, Agente Carter é uma série de época.

Ao Demolidor coube subir a faixa etária das produções, que até então só realizava filmes que poderiam ser assistidos tranquilamente por crianças. O próprio Vingadores 2 segue a formulinha do primeiro com inimigos desumanos que podem ser mortos sem causar dilemas morais ou cenas gráficas demais – no primeiro eram alígenas, agora são robôs. No seriado do Demolidor ossos se quebram e sangue molha a tela, preparando a Marvel para voos mais ousados em sua fase 3.

Ousados e pesados. Minha aposta é que a fase 3 pode levar a Marvel a fechar o tempo sobre seus personagens.

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A primeira dica pode ser percebida pelo tom que o estúdio deu sobre dois Vingadores que ainda não haviam tido grandes momentos: Viúva Negra (Scarlett Johannsson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner). Assistimos à sensibilização da única protagonista feminina dos dois filmes quando descobrimos que, além de uma máquina de matar, ela chora o fato de não poder ser mãe. Sua relação com Hulk e Bruce Banner (Mark Ruffalo) também ajuda a aprofundar os sentimentos da russa, até então inexistentes. Quanto ao Arqueiro, o descobrimos como um carinhoso pai de família, prestes a se tornar pai pela terceira vez.

O fim de Vingadores 2 confirma a humanização da próxima fase. Saem de cena Hulk e Thor (Chris Hemsworth) e os novos Vingadores são apresentados na última cena do novíssimo filme, antes mesmo que o Capitão América (Chris Evans) possa concluir seu chamado de "Avante Vingadores". Agora o grupo parece ser formado pelo Capitão, pela Viúva, pela Feiticeira Escarlate (que ainda chama-se Wanda Maximoff, vivida por Elizabeth Olsen), pelo androide Visão (um dos grandes momentos do novo filme, vivido por Paul Bettany) e os robóticos Máquina de Combate (Don Cheadle) e Falcão (Anthony Mackie).

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É a antessala para os acontecimentos do próximo filme do Capitão América, que também será o quarto filme do Homem de Ferro (e provavelmente a última aparição de Robert Downey Jr. como o personagem, depois de seis filmes neste papel). Capitão América: Guerra Civil, que estreia daqui a um ano, poderia ser tranquilamente um terceiro volume dos Vingadores, afinal o grupo – com esta nova formação – provavelmente estará nesse filme. A saga Guerra Civil, que antagoniza super-heróis ligados ou não ao governo dos Estados Unidos, também foi prenunciada neste novo Vingadores, com a rusga entre o Capitão América e o Homem de Ferro se agravando com o passar do filme. E pode ser que Guerra Civil misture-se com a segunda temporada do Demolidor, confirmando a humanização dos super-heróis da fase 3.

O que também quer dizer que veremos muitas mortes. A morte de Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson) também é o prenúncio de outros heróis que irão morrer durante a fase 3. E não apenas os heróis mais humanos, mas também os super-humanos.

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O terceiro filme de Thor também deve encerrar a participação do ator Chris Hemsworth como o personagem na série e seu subtítulo – Ragnarok, o fim do mundo da mitologia nórdica – pode anunciar mortes de outros nomes ligados ao personagem, como o vilão Loki (Tom Hiddleston), o deus Heimdall (Idris Elba), além do próprio Thor, e elas provavelmente podem estar ligadas à aparição de Thanos, o grande vilão da fase 3.

A Manopla do Infinito calçada pelo antagonista na cena do meio dos créditos do novo Vingadores só pode ser ativada se estiver com as seis Jóias do Infinito – sendo que uma delas está na testa do androide Visão. Acredito que no próximo Capitão América Visão e a Feiticeira Escarlate tornam-se efetivamente um casal como nos quadrinhos (notaram que Wanda é a primeira pessoa que o androide vê ao "nascer"? E que é ele quem salva a Feiticeira no final?) para, provavelmente no primeiro capítulo de Guerra Infinita, serem separados com a morte do robô. O próprio Capitão América pode morrer neste mesmo filme, já que o contrato de Chris Evans prevê apenas mais dois filmes e que, nos quadrinhos, o capitão Steve Rogers é substituído por Bucky (Sebastian Stan), que no segundo filme do Capitão nos foi apresentado como o Soldado Invernal da Hydra.

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Os dois capítulos de Guerra Infinita, o terceiro volume dos Vingadores, portanto, devem ser pesados. Talvez a visão que o Tony Stark tenha tido ao ser hipnotizado pela Feiticeira Escarlate – com todos os Vingadores mortos – não tenha sido uma alucinação e sim uma profecia.

Alie esse clima pesado ao fato de que os novos filmes da fase 3 terem personagens desconhecidos, então temos a possibilidade de filmes densos e sombrios para o Doutor Estranho (talvez o filme de terror da Marvel, que possa conectar-se com a série de terror da Marvel, a já anunciada Punho de Ferro), o Pantera Negra (cujo arquiinimigo Klau foi apresentado em A Era de Ultron, possivelmente marcado no pescoço pelo próprio Pantera) e os Inumanos, além de um segundo Guardiões da Galáxia menos engraçadinho que o primeiro (e talvez com uma ponta de… Hulk? Será que podem criar o universo do Planeta Hulk para unir o monstro verde com os Guardiões?), preparando-os para colocá-los em cena também em Guerra Infinita. Minha única dúvida fica em relação à abordagem do filme da Capitã Marvel.

Este sim pode ser o grande filme da Marvel e um dos maiores blockbusters da história. Nas mãos dos mesmos irmãos Russo que fizeram o ótimo segundo Capitão América, o terceiro volume dos Vingadores pode juntar todos os heróis – inclusive os das séries – e vilões – até alguns que ainda não nos foram apresentados. Se a "iniciativa Vingadores" parecia ousada ao costurar quatro filmes num quinto, Guerra Infinita é isso elevado ao cubo. Afinal, poderemos ter cinco grupos de heróis: os novos Vingadores, os Defensores (grupo que unirá as quatro séries da Marvel no Netflix), os Guardiões da Galáxia, os Inumanos e talvez os velhos Vingadores, se contratos e agentes permitirem.

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Assim podemos entender o ritmo deste novo Vingadores e a sensação de que ele poderia ter rendido mais. Ele não é um filme por si só e sim uma trama global – a ação se passa em quatro continentes – com ganchos para os filmes futuros. E o fato de não ter cena após os créditos vem anunciar que a Marvel vai mexer com nossas expectativas – mais uma vez.

E o detalhe é que Era de Ultron ainda não é a conclusão da fase 2. Ela só se encerra com o novo filme do Homem Formiga, que considero uma incógnita nesta equação rumo à fase 3. Ele parece resgatar o clima pueril das histórias de origem da fase 1 mas já deve escolher um gênero específico (comédia?) como parte da fase 2. E certamente terá um ou mais ganchos para esta terceira fase do Marvel Cinematic Universe – e especificamente para o filme seguinte, Guerra Civil.

E você, o que achou do novo Vingadores?

Sobre o Autor

Alexandre Matias cobre cultura, comportamento e tecnologia há mais de duas décadas e sua produção está centralizada no site Trabalho Sujo (www.trabalhosujo.com.br), desde 1995 (@trabalhosujo nas rede sociais). É curador de música do Centro Cultural São Paulo e do Centro da Terra, do ciclo de debates Spotify Talks, colunista da revista Caros Amigos, e produtor da festa Noites Trabalho Sujo.

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